sexta-feira, 28 de novembro de 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Pecado na Capital

É o que ouço, leio, respiro e acordo o tempo todo: “Não peque! Não pode! Ouse! Use! Abuse! Faça! Fale! Atitude! Ação! Tração! Tesão! Corra! Corte o cabelo! Seja sexy! Seja magra! Seja! Esteja! Esteja em forma! Estilo! Estado! Estude! Estrada! Rua! Galeria! Arte! Cidade! Capital! Dinheiro! “Money”! Compre! Tenha! Tenha fé! Tenha tudo!”.
Tudo pode, preguiça não... Preguiça não é coisa que cabe nas ruas duma cidade-capital. É muito folgada e se espalha e se demora. As coisas precisam ser já e, daqui a pouco, elas já são ainda. Num piscar de olhos, o amanhã já virou ontem. Num piscar de olhos, meu despertador berra:

-“Melhor deixar pra espreguiçar amanhã! Você já espreguiçou ontem! Já perdeu cinco minutos! Num minuto, cê perde um contato! Num contato, cê ganha dinheiro! Contato é dinheiro! O tempo é catalisador! Ou você ou ele! É você contra o tempo, minha amiga! Catalisa! Anda logo! Corre! Anda rápido!

E lá vou eu, manca de sono, me equilibrando em sapatos, roupas e gestos que não queria usar. Ganhando tempo que eu queria matar. Matar o tempo direito, sabe? Esquartejar e jogar pela janela com relógio e tudo, com requintes de crueldade. E com muita, MUITA calma.

A gente só vive, deveras, quando mata o tempo
Mas não deve! Não há tempo pra isso, não! Deve manter o foco e evitar vertigens! Ver que se deve andar pra frente, nunca em círculos! Não se deve circular e passar de novo e ver. De verdade.

Assim é o ciclo. Não se pode girar e girar e girar e girar...até enjoar
. Não há tempo pra enjoar! O vômito tem de ser precoce! Nada de vertigens e rodopios e desvarios e oscilações e frio na barriga e loucuras e tremor nas pernas e... e... e...

Iiiiiiih!

Enjoei! Deu abuso dessa rapidez! Vou ver se tô ali na esquina. Esticar e bater perna, espreguiçar, matar o tempo, circular, ir, voltar, dormir pra acordar...e se alguém buscar por mim, mandar e-mail, torpedo, sinal de fumaça ou telegrama estarei com “Rede Cheia” e em “Endereço não encontrado”.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

SolA Sol


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Basta pôr os pés e a cabeça nas nuvens e dá pra sentir quanto o caminho muda e quanto faz falta sujar os pés em lugares conhecidos.
Passo a passo.
Passo e passo...

- Quanto falta pra chegar em algum lugar? – pergunto eu.
-“Bastante!” – algo responde.

Alguma coisa já andou, alguma terra já me guardou, mas os pés ainda não estão bem sujos. Bem que eu queria!
Mas passo...
E penso que tem muito chão pela frente e muito solo embaixo dos pés pra marcar com pegadas. Tem muito sol em cima da minha cabeça e muita terra pra guardar nos meus pés.
Eu passo por esse solo. Eu me consolo.
Eu passo...
Caminhos que sou, caminho com os pés buscando, em silêncio e sem pegadas, outros chãos.
Mantenho o pó dos chãos que pisei na sola do pé. Mantenho o pé no chão que pisei cheio de pó.
Caminho com a sola. Caminho consola...
Passo...
Vou fazendo solo com a planta do meu pé. Consolada. Consolidada. Com sólido medo de espinhos.
E, ainda assim, passo.
Na minha, calçada, descalça.
Passo pra mim...

-“Calça os pés, menina!”

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Já Chega!



“Calma, alma minha! Calminha!”

A alma já chega!

Já chega de buscar, nos travesseiros, algum cheiro perdido!

Já chega de ser coberta de cheiros, só, guardados!

Já chega de tentar guardar na cabeça todas as coisas que quis compartilhar pra reproduzir o momento!

Já chega de tentar, nervosa, tirar da cabeça as dores que a saudade reproduz!

Já chega de lembrar, só, dos momentos que já foram juntos!

Já chega de tomar chuva sozinha e imaginar como seria mágico se estivesse acompanhada!

Já chega de acompanhar o Sol vindo e ver o sonho indo!

Já chega de imaginar, embaixo da lua, os toques com olhos em fumaça!

Já chega de soprar, desesperada, pra acender a brasa!

Já chega de acender o fogo e, com baforadas de mim mesma, espantar o frio!

Já chega de ver esfriarem as horas pra que os minutos passem mornos!

Já chega de olhar pro relógio pirracento com cara de poucos amigos!

Já chega! Já vai passar!

Já passa! Já vai chegar!

Chega já!

Chega já a minha tranqüilidade...

E vai trazer aqueles olhares que me dá e que são só pra mim...

Chega já a minha cumplicidade...

Vai fazer das nossas vozes ecos que são só nossos...

Chegam, já, os nossos ecos de quando estamos sós...

Chega já a nossa luz, que acende quando o mundo apaga.

Já vai chegar meu lampião, meu guia, meu compasso, minha linha.

Calminha...

Já vai chegar o meu eixo, o seu reflexo, o meu côncavo e o seu convexo.


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Ficar do Verbo Ser




Ficar em casa é coisa que o tempo, o dia e o padrão não nos deixam mais fazer. Essa coisa de só ficar em casa. Por ficar em casa. Só por ficar. Ouvir Beatles na sala, cantar na frente do espelho do quarto, dar estalinhos de dedos na cozinha. Abrir a geladeira pra refrescar as idéias. Beber água gelada sem gosto estranho de lugares estranhos. Sentar e levantar só por deitar e espreguiçar. Manter os olhos fechados o quanto e quando quiser. Vestir aquelas roupas que o padrão não deixa e que são tão agradáveis. Desobedecer o padrão e o dia-a-dia. E saborear a desobediência. Mastigar devagar e engolir outro prato além de sapo. Não precisar engolir goela abaixo porque as coisas estão leves. Andar com leveza, sem pressa e quase flutuar. Pisar onde quiser. Sentir a frieza do chão da varanda e a quentura do chão da cozinha. Abrir as embalagens, os espelhos, as janelas, os braços pra espiar por fora e por dentro. Ouvir o barulho de fora e ficar feliz por estar lá longe. Ouvir o barulho de dentro e chegar mais perto. Pra reconhecer. Pra conhecer. Porque minha casa fica dentro de mim.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Abobalipse

www.orlandeli.com.br



Em tempo, o fim do mundo podia ser logo aqui:

No tempo em que minhas lágrimas pingavam como meias molhadas que insistem em não secar e, ainda assim, são postas pra dentro da mala (meia torcida, meio distorcida).

No tempo em que a saudade me fitava de longe com um olhar obsceno, uma cara de quem ia me pegar de jeito e me deixou com medo (foi o jeito...).

No tempo em que meu celular gritou palavras de carinho e consolo. Palavras de outros. Outros carinhos.

No tempo em que eu segurava com desespero os ponteiros do relógio enquanto as horas eram escarreiradas, o dia se despedia esbaforido e a noite já vinha a me cutucar os ombros.

No tempo em que o diálogo não era porque estava nervoso demais para ser. E não concluía, pois já estava no fim.

No tempo em que planos, horas, dias, risos e choros foram separados em dois e encarcerados numa mala vermelha que era pesada demais, já que se levava nas costas um mundo partido no meio.

No tempo em que, diga-se de passagem, meio mundo ia pra longe.

Na noite em que os pingos caíam agudos e crônicos dos olhos e dos céus.

No dia que podia ser o fim do mundo.

E que o mundo é o fim!

Mas, enfim, não podia!

Afinal, era, apenas, o fim de um dia de segunda-feira...



segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Sede de sangue

Ou, ainda, enquanto a menstruação não vem...
(Leia-se TPM! Leia-me TPM!)






Poema ulcerado


Estive, aqui, a pensar se escrevo

E vi-me a rir e a perguntar se me leria

Similar, já sei que sou

E sei que sempre o seria


Pois tenho úlcera do mesmo de sempre

Busco ecos do que me faz gosto

Ou será que rumino feridas

Que encontro em meu corpo, caídas,

Com as marcas do amargo, então, posto?


Ou será um dedo na ferida marcada

Casca aberta e estancada

Líquida e sóbria?

Chega de tudo!

Chaga de nada!


Esse tempo é repetido

Faz meu ego distraído

Faz de prego a minha andada


Cravo na carne o caminho

Esmago vestígios de indício

Prezo a manutenção do que foi

Transformo em desejo mesquinho,

Mantenho a vertigem e o vício


Faço ensaios curativos

Abuso de toda casca superficial

Abuso de mundo, enjôo de vento

Aborreço tumor, tachado, sangrento

Me viro de tacho e vomito o final.


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Um fim aos começos




Não! Isso não é um começo!

Sim! Preferi não-começar as coisas com um não-começo. Nada mais natural, afinal, não saberia definir por qual começo deveria começar. O começo de mim? O começo do Universo? O começo dos sonhos? Dos astros? Dos deuses? Dos mitos? Seria o começo um pré-requisito pra existência? Então, algo que não começou não pode existir? Como pode? Quando pode? Quanto? Quanto aos sonhos? Qual o começo de um sonho? Quanto aos deuses? Qual o começo de um deus? Quanto às vidas? Qual o começo de uma vida?

Olha quantas!

Pra mim, esse moço chamado "começo" não existe, de fato! Já eu, talvez exista. Posso existir, até mesmo antes do momento que a senhora minha mãe passou a sonhar com o seu primogênito. O que ela não imaginou foi que o "ser primeiro" do seu ventre teria a ousadia de deixar expostas e escondidas, em rede pública, suas pessoas, suas vidas, seus não-começos, seus fins, suas idéias, a falta delas, os sonhos, as paranóias, as belezas, as fraquezas, as feiúras, seus fragmentos, suas completudes, suas ordens, desordens, desistências, persistências e reticências...

Por fim, eu (a primogênita, as primeira pessoas) posso também, ser um sonho que nunca começou...

Portanto, o melhor a fazer é esquecer os começos.

E que venham os meios, já que os fins os justificam!


*Figura retirada de qualquer site sem qualquer permissão


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

teste


teste
texto
testa
testando
na testa
textualizando
tá?